Anorexia e Desejo
- alexandra machado
- 10 de fev. de 2015
- 3 min de leitura
Texto elaborado a partir do filme Maus Hábitos de Simón Bross, articulando o desejo e a anorexia para Lacan.

Anorexia e o Desejo.
Alexandra Machado.
A partir do filme 'Maus Hábitos', onde é tratado os distúrbios alimentares em seus três personagens, no qual cada um possui uma relação peculiar com o alimento, o presente trabalho focará apenas uma personagem, chamada Elena.
Elena é uma mulher magra, possuindo anorexia, no qual, tem vergonha do peso da sua filha, tentando induzir de formas gorsseiras à filha fazer dieta, mostrando assim uma forte tendência a aprovação externa extrema, hipersensibilidade à criticas, buscando assim aceitação não só dela mas também de sua filha. Portanto, o tema desse trabalho será a anorexia e o que isso tem haver com o desejo.
A identidade do sujeito com anorexia passa a ser composta pela comida, as dietas, o corpo e o peso, que por sua vez compõem a própria fantasmática desses sujeitos, funcionando assim como uma amarração e estimulação da fixação dessas posições subjetivas. Para a Psicanálise, não existe a anorexia, mas sim, diferentes modos de estar anoréxico. Emobra se apresente com mais frequência em uma determinada idade e gênero. No entanto, isso não basta para estabelecê-la como mais uma estrutura.
A anorexia para Lacan, é visto como um comer nada, diferenciado de um não comer, isto é, em uma manobra que inverte a relação inicial de depndência do sujeito em relação ao Outro materno, a recusa alimentar coloca em jogo o "nada" como objeto separador. O objetivo, se é que pode-se dizer assim, do sujeito com anorexia, é criar uma separação, estabelecer uma distância, criar uma brecha no Outro, um desejo ao qual possa interrogar. Portanto, para esses sujeitos, há desejo, porém o Outro insiste em obturá-lo com a satisfação de uma necessidade. Para que se articule um desejo, há que haver duas demandas, porém a mãe que empanturra não pede, e nem deixa que a criança abra a boca para pedir. Ou seja, ao articular esse sintoma ao objeto oral, que é representado pelo objeto nada, na medida em que é disso que o sujeito com anorexia se alimenta, em O Seminário, Livro 4: A relação de objeto (1956-1957), e no texto A direção do tratamento e os princípios de seu poder (1958), Lacan toma o objeto nada a partir do estatuto simbólico, surgindo como um objeto que cria uma distância entre a criança e a mãe. Remetendo assim, à ausência de reciprocidade entre o objeto da necessidade e o objeto da demanda, o que também acontece entre o objeto da demanda e o objeto do desejo.
O Outro, não é capaz de perceber essa ruptura entre o objeto da demanda e o objeto do desejo, confundindo seus cuidados com o dom do seu amor.
O trabalho de análise então com sujeitos que apresentam anorexia, é um amplo e paciente trabalho prévio, em que é preciso que o sujeito se situe no nível do sujeito barrado e abandone seu posicionamento. O que implicaria, segundo Lacan, numa retificação subjetiva, isto é, em fazer do seu sofrimento um enigma, em incluir-se na queixa que formalmente expressa. Já que a psicanálise radicalmente propõe uma clinica que escute o dizer, o que espera dos sujeitos com anorexia é que essas bocas até então forçadas a comer, traduzam em palavras seu sofrimento, ou seja, o que a psicanálise propõe é que o gozo ceda lugar ao significante. É preciso permitir que o sintoma fale.
A psicanálise está interessada pela forma peculiar que a anorexia aponta para algo do particular de cada sujeito, que constrói seus sintomas como resposta às motivações inconscientes. A ética da psicanálise pressupõe que o sujeito seja considerado a partir do que ele preserva de mais íntimo e distinto, ou seja, seu desejo.
Referência Bibliográfica
LACAN, J. O Seminário, Livro 4: A relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
__________ A Direção do tratamento e os Princípios de seu poder (1958). In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
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