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O Amor na Erotomania

  • alexandra machado
  • 12 de fev. de 2015
  • 3 min de leitura

Uma breve análise sobre o Amor na erotomania.

Com base no filme Bem-me-quer Mal-me-quer.

Alexandra Machado

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O filme Bem-me-quer Mal-me-quer tem como tema central o amor, no entanto, aborda a forma “louca” do amor, como já diz o nome original do filme A loucura em tudo, La Folie pas do tout. Trata-se do amor na psicose. O trabalho será dividido em três partes sendo articulado com a questão do feminino na psicanalise, tal como é a proposta do mesmo.

Na primeira parte do filme, Angelique, personagem principal, uma artista plástica, conta a historia de um amor correspondido, tendo apenas como obstáculo para ser consumado o fato de se objeto de amor, a saber, o cardiologista Loic, ser casado. Obstáculo esse que seria resolvido rapidamente para Angelique, no fato de que Loic está decidido a se separar, sendo possível ver só mais tarde no filme, que se trata de uma fantasia. Porém com o decorrer do filme, somos levados a acreditar de fato na participação do medico na formação da demanda da personagem, já que é tomado como dado de realidade o que vem da certeza delirante de Angelique, isto é, da sua realidade subjetiva. Fazendo do medico um canalha.

Só na segunda parte do filme que é possível dar conta de que se trata de uma historia de amor de mão única, fazendo do delírio erotomaniaco um papel principal na vida de Angelique, atravessando seus laços socias e até a sua arte. É a partir desse delírio que a personagem arquiteta seu mundo, dando sentido à sua vida e à seu próprio ser. O desencadeamento desse delírio amoroso ocorre a partir de um encontro aleatório dela com o medico, no dia em que o mesmo fica sabendo que sua esposa está grávida, e então feliz com a noticia entrega uma flor à Angelique, no qual é a primeira pessoa em que vê pela frente. No entanto, essa mulher não teria espaço para receber uma simples rosa de alguém sem lhe transferir um amor absoluto. Para Loic um ato banal. Para Angelique um sentido para sua vida. Nesse momento ela experimenta um gozo próprio da posição feminina, virando ela A mulher que Loic amava. Assim, interpretando o gesto do medico como uma prova de amor, ela expressa o fundamento da erotomania, ou seja, o Outro me ama; onde todo o real é tratado pelo imaginário, dando sentido amoroso a tudo. Na cena em que ela envia um coração de presente ao medico, evidencia a sua forma particular de tratar o simbólico, isto é, sem metáforas, sendo típico da psicose. Embora a erotomania não se restringir à psicose, ao contrario, é um componente delirante comum à mulher, pela falta de um significante

que define o que é ser mulher, ela torna-se muito mais propensa e dependente do amor, por amar sempre visando ser amada. É por essa via que a mulher tenta significar e fazer consentir seu ser. Por isso é comum ver na neurótica a interpretação de pequenos gestos ou palavras como signos de amor, ou seja, pelo fato da mulher necessitar de prova, demanda insistentemente palavras de amor. E como não há a ultima palavra que encerre uma mulher na certeza do amor do outro, a demanda de palavras e atos de amor acaba-se estendendo ao infinito, porque como diz Lacan, o que uma mulher demanda é a garantia de ser única para o objeto amado.

Na psicose porem, não há espaço para a dúvida e para a falta. Quando o delírio é instalado, a consequência é a certeza do amor, não sendo necessárias as palavras de amor. Lacan diz que o amor na psicose é um amor morto por não ser vivificado pelo desejo, encontrando nesse amor a pulsão de morte.

As consequências trágicas dessa paixão vão se apresentando de maneira crescente. Após Loic declarar seu amor à sua esposa, a vida de Angelique perde totalmente o sentido e sua loucura chega ao seu ápice quando ela vê dirigido à outra, o que ela tinha certeza absoluta que era dela, tentando assim se matar, isto é, diante da situação em que encontra-se como um objeto caído do Outro, sem esperança, de frente ao nada, literalmente tomada pela pulsão de morte, fazendo valer a frase que dissera ao seu amigo: “Se eu não acreditar nisso (no amor de Loic), o que me resta?”. Ela tornara-se o próprio objeto nada, o dejeto.

A terceira e ultima parte dá-se a partir da sua internação, no qual estão para além dos eletrochoques, das pílulas em que não engolia e das conversas com o psiquiatra, que a concedeu alta uns anos depois, vê manter-se intacta tanto a sua capacidade artística de transformar dor em arte, quanto sua paixão por Loic, o que remete localizar o lugar radical, nessa mulher, do amor e da arte que a ligam, paradoxalmente, tanto à vida, quanto à morte.


 
 
 

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